Durante sua última visita ao Brasil em outubro para o lançamento do Segredo 6, 2021, o ícone do grupo Costa Boal Family Estate, tivemos a oportunidade de bater um bom papo com seu proprietário, o português António Costa Boal sobre temas que vão desde seus terroir até o impacto das mudanças climáticas nas suas videiras.
Desde 1857 a família de António Costa Boal produzia e vinificava uvas, no Douro, mas somente 155 anos mais tarde, em 2012, ele, descendente desses agricultores, lançou a primeira marca de vinho com o nome da família. Ele próprio já trabalhava há 10 anos nos vinhedos da família antes de fazer os seus vinhos. E o que o levou a tomar essa decisão foi a perda do seu pai que o fez deixar o curso de Engenharia Alimentar, no Porto, para cuidar das terras herdadas. Veja este e outros detalhes na entrevista abaixo:
Cláudio: Primeiro eu queria agradecer pelo teu tempo, António. Não é fácil parar no meio de um evento de lançamento e apresentação dos seus rótulos para batermos esse papo. Bom, queria entender inicialmente o porque de trabalhar em três regiões/terroirs diferentes. Foi por acaso? Herança da família?
António: Não foi por acaso! Foi o património que eu quis fazer crescer e fui comprando quintas. Em conjunto com a equipe de enologia percebemos que tínhamos que investir em outros terroirs e neste caso em outras regiões, então Alentejo. Alentejo porquê? Porque nós trabalhamos com distribuição a nível nacional e internacional onde os clientes procuram outras regiões além do Douro. Então fazia todo o sentido nós termos em nosso portfólio por exemplo um Alentejo e aí fomos à procura de um terroir específico, um terroir que é o Alentejo de Estremoz como eu lhe costumo chamar. Alentejo de Estremoz porquê é uma região mais fresca, uma região que se enquadra dentro do perfil da Costa Boal.
Cláudio: E aí você vai e adquire essas terras, esse este terror específico.
António: Sim nós adquirimos cerca de dez hectares de vinhedos, adega e neste momento é cem por cento controlada por nós desde a produção: desde a parte vinícola e até à parte do engarrafamento.
Cláudio: E em Trás os Montes?
António: Também compramos, adquirimos. Fomos estudando o terroir de lá e hoje posso dizer que passado quinze anos depois de lançar o primeiro vinho estamos completamente satisfeitos porque foi um um estudar estes anos todos e em que foi tipo esse estudo foi um diamante bruto que foi lapidado.
Cláudio: Então assim a origem da família vem do Douro então?
António: A origem da família vem do Douro vem de mil oitocentos e cinquenta e sete em que os meus antepassados faziam vinhos do Porto, aqueles vinhos generosos para outras empresas, e eu, infelizmente, por morte do meu pai fui obrigado a tratar da parte agrícola. Naquela altura tínhamos cinco hectares hoje a Costa Boal tem setenta hectares. E, que segundo os meus responsáveis da parte vitícola e de enologia, dizem que não vamos ficar por aqui e eu também digo que não, que não vamos ficar por aqui porque gostamos de vinhas com identidade e elas estão aí nós estamos à procura delas na região.
Cláudio: Muito bom. Então a ideia de você ter três terroir foi para para criar três experiências........
António: ..... três regiões, mas que permitem que estejam dentro do universo da Costa Boal. Produz o terroir de cada região, mas um terroir mais elegante, mais fresco em que permite nós estarmos aqui durante a tarde a beber este vinho e ele não enjoa.
Cláudio: Excelente, excelente. São vinhos muito fáceis de beber!
António: Exatamente!
Cláudio: E uma pergunta sobre mudança climática. Vocês estão em três regiões diferentes de Portugal você já sente alguma mudança? Algum impacto da mudança climática?
António: Sim, sentimos. Aí temos um um grande problema como todas as empresas têm, que obriga-nos a um trabalho reforçado na área da viticultura, mas aí saber entender cada especificidade da região é fundamental. A região mais fácil onde nós temos de aclimatar isso é na região de Douro, onde temos maior área porque nós aí temos três microrregiões. O Douro tem três microrregiões Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior. A Costa Boal felizmente com todo o custo e com todo o investimento que fez na altura desde dois mil e onze comprou uma quinta no Douro Superior, comprei quintas no Baixo Corgo o que nos permite ter hoje quintas desde os cento e oitenta metros de altitude aos seiscentos metros de de altitude. Ou seja ano a ano nós podemos jogar com o blend com uvas do Douro Superior com uvas do Cima Corgo e garantir sempre o mesmo perfil mesmo com as alterações climáticas porque estamos a trabalhar com altitudes diferentes.
Posso lhe confidenciar que semana passada acabaram as vindimas dos tintos, mas nós começamos com a vinha da serra com branco - uma vinha que está a seiscentos metros de altitude. Nós começamos com o branco no Alentejo em 14 de agosto, e passado agosto, setembro, outubro, passado dois meses e meio tivemos a vindimar a vinha da serra a seiscentos e qualquer coisa metros de altitude com uma acidez e com um teor alcoólico incríveis, com 12,5% de álcool, com 6,8 de acidez e com 3,20 de PH, ou seja um vinho natural - estamos a falar de vinhos naturais, e este é um exemplo.
Cláudio: E essa salinidade do Segredo que eu senti uma salinidade nele, vem de onde? Do terroir?
António: Este vinho tem muitas particularidades e podíamos estar aqui hoje a falar duas horas sobre este vinho. Ele dá uma fruta madura e depois tem uma acidez parece que vai terminar assim doce, mas não, depois na boca ele termina fresco com vontade de beber. Tem a ver com o quê? Muito simples: com a idade da vinha (1957). Há videiras que em muitos anos não dão cachos. Há videiras que noutro ano dão cachos. Dão dois cachos! A idade da vinha aqui é fundamental porque o comportamento de uma vinha de dez, quinze, vinte anos não é a mesma coisa que uma vinha com sessenta, setenta e até cento e quarenta anos, como nós temos! Aí tá, aí tá o segredo! Tá o Segredo!
Cláudio: Muito bom! Parabéns pelo vinho! Pelos vinhos, melhor! Obrigado pelo papo! Saúde! (brinde)
António: Saúde! Obrigado você! Obrigado nós! (brinde)
A História, A Herança, A Expansão, Os Terroirs, As Regiões, As Mudanças Climáticas e O Segredo: Nosso Papo com António Boal
Entrevista por Cláudio Bastos, que esteve à convite de Shirley Legnani
Fotos por Cláudio Bastos e Rosane Flinkas
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