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Encontro Mistral 2025 — São Paulo: encontros, vinhos e conversas que inspiram

  • Foto do escritor: Cláudio Bastos
    Cláudio Bastos
  • 12 de ago.
  • 6 min de leitura
Encontro Mistral 2025 — São Paulo: encontros, vinhos e conversas que inspiram

O Encontro Mistral 2025, realizado no Grand Hyatt, em São Paulo, foi uma daquelas ocasiões que lembramos por muito tempo: um salão cuidadosamente montado, com circulação pensada, produtores presentes para conversar e mais de 450 rótulos à prova — tudo projetado para permitir que o apreciador de vinhos converse diretamente com quem faz o vinho. 


O encontro acontece apenas a cada dois anos e, nesta edição, ocupou os dias 4, 5 e 6 de agosto em São Paulo (com uma etapa no Rio de Janeiro em 7 de agosto). A organização, reconhecida por seu rigor, limita voluntariamente o número de ingressos por dia para garantir condições ideais de degustação e proximidade entre público e produtores — característica que torna o evento tão especial para profissionais e entusiastas.


A dimensão e o prestígio do Encontro Mistral ficam claros nos números e na lista de participantes: nesta edição a curadoria reuniu cerca de 78 produtores de 13 países e mais de 450 vinhos para degustação, com nomes de enorme peso histórico e qualitativo — de Vega Sicilia e Joseph Drouhin a Faiveley, Catena Zapata, Quinta do Vale Meão e muitos outros — o que transforma o salão em uma espécie de “mapa mundial” do vinho em uma única experiência. Para o visitante, a proposta da Mistral é clara: promover o contato direto entre autores e apreciadores, apresentar a diversidade dos terroirs representados e facilitar o diálogo que acrescenta contexto às garrafas.



Estive no último dia em São Paulo, degustando rótulos do selecionado portfólio da Mistral e realizando entrevistas que em breve serão publicadas aqui no Boas Taças. Entrevistei profissionais cujos nomes carregam história e identidade: Christophe Thomas (Maison Joseph Drouhin / Domaine Drouhin Oregon), Luís Patrão (enólogo da Tapada de Coelheiros), Angelo Cotugno (diretor da San Marzano), Diana Kelley (Tempos Vega Sicilia), Pedro Olavo Brasil de Albuquerque (Albuquerque & Davó), Johann De Wet (De Wetshof) e Gabriel Pisano (Viña Progreso). Em cada conversa, temas recorrentes: respeito ao terroir, decisões de vinificação como assinatura da casa, a busca por identidade regional e, sempre, o papel da inovação sem perder a tradição.



Destaques que marcaram presença 


Além dos produtores mencionados anteriormente esta edição trouxe uma série de nomes emblemáticos mundialmente, bem como várias estreias que merecem destaque: Yann Schÿler, do histórico Château Kirwan, Troisième Grand Cru Classé de Margaux. Presença marcante com vinhos refinados e tradição bordalesa. A Famille Perrin, composta por François Perrin, Isabel e Alberto Sued, trouxe ao salão o icônico Château de Beaucastel (Châteauneuf-du-Pape), além de suas outras propriedades: Famille Perrin, Domaine et Maison Les Alexandrins, La Vieille Ferme, Miraval e até o The Gardener Gin (na Provence, com Brad Pitt como sócio), além do projeto californiano da Tablas Creek. 


Da Itália, com prestígio absoluto: Tancredi Biondi Santi, oitava geração da família que criou o Brunello di Montalcino, apresentou os supertoscanos da Castello di Montepò; Margherita Manetti, proprietária da Fontodi, estrela do Chianti Classico e autora de supertoscanos memoráveis; Andrea Campagnola e Francesco Carletti, da Campagnola, referência na Valpolicella; O emblemático Poliziano, símbolo do Vino Nobile di Montepulciano. 


Da Argentina, com enfoque em inovação e ancestralidade: Alejandro Vigil, enólogo-chefe da Bodegas Catena Zapata, proprietário da El Enemigo, e do recém-lançado projeto espanhol El Reventón, trouxe sua expertise para o evento; Ernesto Catena apresentou seus rótulos autorais das pequenas vinícolas Tikal, Alma Negra, Tahuan, Padrillos, Animal e On The Road, ao lado do enólogo italiano Folco Miccinesi, responsável pela versão toscana da linha On The Road; Joanna Foster, proprietária e enóloga da Stella Crinita, reforçou o protagonismo dos vinhos naturais. 


Estreias marcantes na programação: A Albuquerque & Davó (MG/SP), vinícola brasileira recém-incorporada ao catálogo da importadora, esteve presente pela primeira vez com seus proprietários Pedro Olavo Brasil de Albuquerque e José Afonso Davó; A premiada portuguesa Quinta do Mouro, de Alentejo, firmou estreia no Encontro, representada por Luis Louro; Adrianna Catena, filha mais nova de Nicolás Catena, participou pela primeira vez do evento, trazendo a nova geração da El Enemigo e El Reventón, agora com forte presença na Serra de Gredos (Espanha); Também pela primeira vez no Brasil: o francês Samuel Guibert, proprietário e enólogo da Mas de Daumas Gassac — Languedoc-Roussillon de terroir excepcional — e o uruguaio Gabriel Pisano, da Viña Progreso, que une tradição familiar centenária a uma abordagem inovadora. 



Um pouco mais sobre os produtores que entrevistei


Maison Joseph Drouhin / Domaine Drouhin Oregon — Christophe Thomas é figura conhecida entre os amantes da Borgonha: a Maison Drouhin é uma casa centenária (fundada em 1880) que atua como negociant e proprietária de vinhedos de prestígio na Côte d’Or e, desde 1988, também no Willamette Valley (Oregon). Os vinhos carregam a elegância borgonhesa nas suas linhas de Pinot Noir e Chardonnay; já o braço americano (Domaine Drouhin Oregon) traduz essa tradição francesa à luz das condições do Oregon, gerando exemplares de grande finesse. A conversa com Christophe destacou esse diálogo entre tradição e adaptação ao novo terroir.


Tapada de Coelheiros — Representando o Alentejo, Tapada de Coelheiros tem se notabilizado por vinhos que equilibram autenticidade regional e práticas modernas, com atenção crescente à viticultura de precisão. Luís Patrão, à frente da enologia, vem conduzindo trabalhos que valorizam as castas portuguesas e a expressão do solo alentejano, resultando em rótulos com boa acidez, foco em fruta e caráter mediterrânico. Em nossa conversa, Patrão falou sobre o compromisso com qualidade de vinha e a busca por constância entre safras.


San Marzano — No estande da Puglia senti o calor e a densidade das uvas do sul da Itália. A Cantina San Marzano, conhecida por seus Primitivo di Manduria, nasceu como cooperativa nos anos 1960 e cresceu tornando-se referência regional; Angelo Cotugno, que representa a casa em eventos internacionais, explicou as características do Primitivo — vinhos de cor profunda, fruta madura e, muitas vezes, excelente relação potência/roupa — e a relação entre vinhedo e tradição local.


Tempos Vega Sicilia — A presença da família Vega Sicilia (representada na América por Diana Kelley) traz sempre uma dimensão histórica e de prestígio. Vega Sicilia é sinônimo de longevidade e excelência na Espanha, com rótulos que combinam estrutura, capacidade de guarda e precisão de terroir. Diana destacou como o trabalho de seleção e o respeito às castas e maturação resultam em vinhos de identidade singular, com apelo tanto no mercado tradicional quanto entre novas gerações de consumidores. Diana comentou também sobre a presença do grupo na Hungria.


Albuquerque & Davó — Conversei com Pedro Olavo Brasil de Albuquerque, que me contou sobre o projeto e as aspirações de produzir com identidade brasileira, respeitando climas e solos locais, e ao mesmo tempo dialogando com técnicas e inspirações internacionais. A empresa/projeto tem uma presença crescente no mercado local e traz receitas e parcerias que misturam tradição com visão contemporânea.


De Wetshof — A De Wetshof, da África do Sul (Robertson), é uma propriedade com longa história familiar; Johann De Wet, proprietário e enólogo, representa a continuidade de gerações e o cuidado com a expressão varietal — no caso local, destaque tradicional para Chardonnay e outros brancos de alta qualidade. Em conversa, Johann falou da importância da seleção de parcelas e do papel da família na manutenção de um projeto de longo prazo.


Viña Progreso — Gabriel Pisano é um dos nomes mais criativos do Uruguai contemporâneo: sua Viña Progreso é chamada por ele mesmo de “bodega experimental”, um espaço para experimentar Tannat, vinificações em aberto, fermentações espontâneas e uso mínimo de intervenção. Seus rótulos (linhas “Underground” e “Overground”) demonstram um olhar jovem, atento ao potencial da terroir uruguaio e disposto a desafiar convenções. Conversar com Gabriel foi perceber como a experimentação pode conviver com qualidade consistente.



Degustações intensas e conversas que inspiram


Além das entrevistas formais, um dos pontos altos do Encontro foi circular pelos estandes: é ali que se encontram novas descobertas, rótulos históricos e os lançamentos que nem sempre chegam à prateleira rapidamente. Vi rótulos emblemáticos (Vega Sicilia, Bodegas Tondonia, Faiveley, Catena Zapata, Famille Perrin, Château de Beaucastel e tantos outros) — uma aula de diversidade estilística e de comparação direta entre safras e interpretações de terroir. Essa convivência concentrada permite calibrar paladar e entender decisões de corte, estágio em madeira, usos de leveduras indígenas e outras escolhas técnicas que os produtores explicam pessoalmente.


O objetivo da Mistral com o Encontro é também pedagógico e relacional: além de impulsionar vendas e apresentar portfólios, o evento busca educar o trade e o consumidor, fortalecer relações com importadores e produtores, e posicionar o Brasil como um mercado de referência para lançamentos e debates sobre vinho. A seleção de produtores — que combina nomes clássicos e projetos emergentes — mostra a intenção de oferecer um panorama global, mantendo diálogo aberto entre tradição e inovação.


Sobre quem faz acontecer


Quero agradecer publicamente à Mistral, na pessoa de Cláudia Mota, pelo convite e pela estrutura impecável que possibilitou tanto as degustações como as entrevistas; e à Sofia Carvalhosa Comunicação, nas pessoas de Sofia e a incansável Renata Martins, pelo apoio no agendamento e logística das entrevistas — parceria essencial para que as conversas acontecessem com calma e profundidade. 


As entrevistas completas com Christophe Thomas, Luís Patrão, Angelo Cotugno, Diana Kelley, Pedro Olavo Brasil de Albuquerque, Johann De Wet e Gabriel Pisano serão publicadas em breve no portal Boas Taças: fiquem atentos, pois cada uma traz insights exclusivos sobre filosofia de produção, escolhas de vinificação e as histórias pessoais que transformam rótulos em memórias.


Encontro Mistral 2025 — São Paulo: encontros, vinhos e conversas que inspiram

Texto, fotos e vídeos por Cláudio Bastos - Boas Taças


1 comentário

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Admir Machado
13 de ago.
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Que beleza de evento!!

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